Tratamentos médicos para obesidade: quais as principais opções disponíveis hoje?
A obesidade é uma condição crônica e multifatorial que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo o Brasil.
Segundo dados divulgados pelo SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) em 2024, mais de 9 milhões de brasileiros vivem com algum grau de obesidade. Desses, mais de 1,1 milhão apresentam obesidade grau III, com índice de massa corporal (IMC) acima de 40 kg/m².
Esses números reforçam a necessidade urgente de ações eficazes de prevenção, diagnóstico e tratamento, que vão além de mudanças no estilo de vida e exigem abordagem médica integrada e individualizada. Muito além de uma preocupação estética, a obesidade aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, apneia do sono, alguns tipos de câncer e distúrbios metabólicos.
A seguir, exploramos as principais estratégias terapêuticas atualmente utilizadas por profissionais de saúde especializados.
1. Intervenções no estilo de vida
As mudanças no estilo de vida são a base do tratamento da obesidade. Isso inclui orientações sobre alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, higiene do sono e manejo do estresse. Essas intervenções são essenciais tanto na prevenção quanto no controle da obesidade.
Contudo, estudos mostram que, embora eficazes, as intervenções comportamentais isoladas tendem a ter resultados limitados a longo prazo, especialmente em casos de obesidade moderada a grave. Por isso, elas são frequentemente combinadas com outras abordagens médicas para potencializar os resultados.
2. Terapia nutricional
A reeducação alimentar sob orientação de um nutricionista é parte essencial do plano de tratamento. Dietas com déficit calórico controlado, adaptadas ao perfil metabólico e às preferências alimentares do paciente, têm mais chances de adesão e eficácia.
Atualmente, diversos protocolos alimentares têm sido estudados, como a dieta mediterrânea, cetogênica, low carb e jejum intermitente. A escolha do modelo deve considerar a segurança metabólica, o impacto sobre a composição corporal e a viabilidade a longo prazo.
3. Suporte psicológico e terapia comportamental
A relação entre obesidade e saúde mental é estreita. Muitas pessoas com obesidade convivem com transtornos como ansiedade, depressão, compulsão alimentar e baixa autoestima, o que pode comprometer a adesão ao tratamento.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais utilizadas nesse contexto. Ela ajuda o paciente a identificar padrões disfuncionais de pensamento e comportamento, favorecendo mudanças sustentáveis. O apoio psicológico também é importante para lidar com o estigma da obesidade, que ainda é uma realidade em muitos ambientes sociais e de saúde.
4. Medicamentos para controle de peso
A farmacoterapia é indicada para pacientes com IMC ≥ 30 kg/m² ou IMC ≥ 27 kg/m² com comorbidades associadas, quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para atingir a perda de peso desejada.
Nos últimos anos, surgiram novos medicamentos com maior eficácia e perfil de segurança mais favorável. Entre as opções disponíveis no Brasil, destacam-se as canetas emagrecedoras, conhecidas como análogos de GLP-1, uma classe de medicamentos originalmente desenvolvida para o tratamento do diabetes tipo 2, mas que demonstrou resultados expressivos na redução do peso corporal. Esses fármacos atuam imitando a ação do hormônio GLP-1 (glucagon-like peptide-1), que regula a saciedade, ajudando o paciente a comer menos e a sentir-se satisfeito por mais tempo.
Em casos bem indicados, os análogos de GLP-1 podem levar a uma perda de peso significativa, além de benefícios metabólicos adicionais, como melhora do controle glicêmico e redução da inflamação. No entanto, seu uso deve ser sempre acompanhado por um médico, uma vez que a resposta ao tratamento e os possíveis efeitos adversos variam entre os pacientes.
5. Cirurgia bariátrica e metabólica
A cirurgia bariátrica continua sendo uma das opções mais eficazes para o tratamento da obesidade grave (IMC ≥ 40 kg/m² ou IMC ≥ 35 kg/m² com comorbidades). Ela pode promover perda de peso substancial e duradoura, além de melhorar ou até reverter doenças associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemia.
Existem diferentes técnicas cirúrgicas, como o bypass gástrico e a gastrectomia vertical (sleeve), que devem ser escolhidas com base nas características clínicas de cada paciente. A indicação cirúrgica envolve uma avaliação multidisciplinar criteriosa e exige comprometimento com mudanças no estilo de vida no pós-operatório.
6. Monitoramento contínuo e abordagem multidisciplinar
Independentemente da abordagem escolhida, o sucesso no tratamento da obesidade exige acompanhamento contínuo e suporte por uma equipe multiprofissional, composta por médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e outros especialistas.
É importante lembrar que a obesidade é uma doença crônica e que tende a reaparecer. Isso significa que o tratamento não é pontual, mas sim um processo contínuo de cuidado e adaptação. O foco deve estar na saúde global do paciente e não apenas na perda de peso em si.
A medicina moderna reconhece que não há solução única para a obesidade. O plano terapêutico precisa ser personalizado, respeitando o histórico clínico, o contexto social e os objetivos individuais de cada pessoa.
Investir em informação de qualidade, combater o estigma e ampliar o acesso a tratamentos baseados em evidências são passos fundamentais para enfrentar esse desafio de saúde pública com seriedade e humanidade.
Referências:
SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica). Obesidade atingiu a marca de 9 milhões de pessoas no Brasil em 2024. Notícias, 04 mar. 2025. Disponível em: https://sbcbm.org.br/obesidade-atingiu-a-marca-de-9-milhoes-de-pessoas-no-brasil-em-2024/. HANNA, A. C. L.; COSTA, A. A. de O.; CARMO, A. S. M. da S.; DE OLIVEIRA, A. F.; AUTRAN, G. N. V. S.; WU, M. F.; CEZAR, V. T.; COSTA, C. C.; COVRE, A. H.; MAGALHÃES, K. A.; DE SOUZA, G. A. A.; FERREIRA, P. D. C. Abordagens emergentes para o tratamento da obesidade e síndrome metabólica. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 6, n. 3, p. 11423–11437, 2023. DOI: 10.34119/bjhrv6n3-240.
Foto de Vitaly Gariev: https://www.pexels.com/pt-br/foto/pessoa-pessoas-mulher-relaxamento-23496505/

