Colunista Jefferson FernandesEntretenimento

O RÁDIO PERDEU SUA RELEVÂNCIA?

A resposta é sim e não, em um mesmo tempo. Explico:

Na década de 50, quando surgiu a televisão no Brasil, foi decretada a morte do rádio. O que não aconteceu!

Dando um salto para os anos 2000 em diante, o rádio, diferente da década de 50, está cercado de concorrentes e todos com imagem! As novas mídias se atualizam, com a velocidade do mundo pós-moderno, do comportamento, passando pela informática às telecomunicações.

A pandemia gerou um alívio ou atrasou o inevitável, fazendo com que o rádio fosse, novamente, um dos “queridos” dos confinados. Diferente das mídias via internet, o rádio não precisa da internet (por enquanto).

Aparentemente, o hábito de ouvir rádio é algo que está mais ligado (mas não só) ao público mais velho. É claro, que as novidades musicais, as “exclusivas” não tem mais razão de ser no rádio, já que as outras mídias como Deezer, Spotfy, YouTube etc., “engoliram” o rádio nesse quesito e vomitam todo o tipo de “música”, principalmente aquelas que o rádio não tocava – porque havia critério de qualidade (principalmente por parte dos músicos) e por ser outro momento da música – mas isso é assunto para outro texto.

Com a saída de cena do AM, que se torna FM, o FM estará sozinho na categoria rádio (terrestre).

Mas isso, enquanto a internet não progredir; como se sabe, na Noruega não há mais rádio transmitida por FM, apenas por streaming, (mesmo 66% dos noruegueses não aprovando a medida) o que significa uma economia com equipamentos de transmissão, técnicos e engenheiros e principalmente com a conta de energia elétrica.

De acordo com a Nielsen Media Research, os ouvintes semanais caíram de 89% em 2019 para 83% em 2020 e está estabilizado até o momento. Na mesma pesquisa, em 2022, 82% dos americanos com idade de 12 anos e acima, ouviram semanalmente rádio “terrestre”.

Por outro lado, para a Pew Research Center, em 2023 o mercado global de rádio cresceu e gerou $ 143,29 bilhões de dólares.

Para a americana S&P Global Inc. (empresa de informações e análises financeiras), os donos de rádio continuam a investir no streaming, podcast e serviços de marketing digital, com receitas digitais previstas para aumentar para US$ 1,98 bilhão até o final de 2028. A previsão é que o off-air (não transmitido ao vivo, mas gravado ou produzido em estúdio de rádio) cresça 3,0% em 2023 e 2,3% em 2024 com transmissão ao vivo de eventos, um segmento crescente para a indústria de rádio, atingindo US$ 2,45 bilhões até o final de 2028.

No Brasil, segundo uma pesquisa de setembro deste ano da Kantar Ibope Media, realizada em 13 regiões metropolitanas, 80% da população dessas cidades ouve rádio e o tempo médio de escuta é de 3h55 diárias. Em relação a outros formatos de áudio, streamings ou podcasts, o número sobe para 90% dos entrevistados.

Com toda tecnologia de hoje e a que virá, a concorrência só tende a aumentar, pois, como dito acima, o rádio investe em serviços de marketing digital, investe em transmissão de vídeo dos estúdios, por outras mídias, ou seja, não dá mais para ganhar a guerra ou pelo menos a batalha, sozinho! A tecnologia facilita e melhora a vida de muitos em detrimento da piora de muitos outros… É a aptidão humana para a autodestruição. Como disse Hobbes, “o homem é o lobo do homem” ou de si mesmo, digo eu.

As rádios de streaming (não todas, mas grande parte delas) são feitas por entusiastas ou pessoas que não são do ramo, muitas vezes mal assessoradas, fazendo uma programação confusa, áudio sem qualidade, variações de transmissão e todo o tipo de erro que – quase – todas as rádios terrestres aboliram de há muito. Talvez, a ideia seja essa mesma: rádio de streaming não deve ser igual às rádios terrestres, as rádios de streaming são outra coisa; e isso vai ser difícil – caso seja isso mesmo – dos mais velhos e profissionais das rádios de AM e FM entenderem…

Então, a relevância do rádio ainda se mantém, mas não podemos ver somente as árvores, temos que ver também a floresta (lembrando um provérbio famoso) no caso em questão, o rádio, hoje, não tem a relevância, nem de longe, como foi um dia, assim como a TV aberta e, como se percebe, o Cinema também… Com tantas opções, as pessoas ficam angustiadas em saber qual opção escolher, mesmo sabendo que ao escolher uma, abriram mão das outras tantas. É um paradoxo do nosso tempo; muitas opções acabam gerando nenhuma opção (nenhuma fixa), pois vemos e ouvimos tudo sem vermos e ouvirmos nada.

E o rádio? Será que um dia vai morrer? No mundo, embora muitos não queiram, há lugar para todos e gosto para tudo.

Por JEFF Fernandes, Psicanalista em formação,Jornalista, Produtor de áudio e Locutor

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