85% das mensagens sobre coronavírus são falsas; o que a psicologia social explica sobre essas fake news
Estudiosos afirmam que a mente tende a concordar com o que traz menos desconforto em momentos de tensão como a pandemia
O fenômeno da propagação rápida das fake news é um tópico cada vez mais observado por diversas áreas do conhecimento. Agora, também faz parte dos estudos nas faculdades de Psicologia, porque é na mente que está a motivação que leva uma grande parcela da população a acreditar em notícias de fontes duvidosas, com argumentações não embasadas e, por vezes, sem sentido lógico, e a compartilhá-las sem antes fazer a checagem dos fatos apresentados.
O comportamento de crer em informações mentirosas foi testado pelos estudiosos da faculdade de Stanford, nos Estados Unidos, na década de 1970. Os pesquisadores distribuíram dois textos falsos – um sobre a eficiência da pena de morte e outro sobre seus malefícios – a dois grupos de voluntários: o primeiro somente com pessoas a favor desse tipo de punição e o segundo, contra, e pediram para que eles avaliassem a qualidade e validade das argumentações.
Apesar de ambos os estudos serem propositalmente inconsistentes e apresentarem diversas semelhanças entre si, cada grupo foi capaz de encontrar fundamento para suas crenças no mesmo conjunto de evidências disponíveis e ambos valorizaram o texto que defendia ideias compatíveis as deles.
Com isso, foi concluído que o chamado “viés de confirmação” é uma forte tendência humana que busca e privilegia informações que estejam de acordo com as crenças preestabelecidas de cada um, pouco importando se as mesmas são verdadeiras ou não.
Freud explica que tal reação está ligada a uma busca inconsciente por diminuir descontentamentos. Isto é, diante de um conflito, cada indivíduo busca uma compreensão que gere menos angústia e coloca a característica da informação estar de acordo com as construções de seu próprio pensamento na frente do julgamento de veracidade ou mentira para ter uma compreensão que gere menos conflitos psíquicos.
Esse comportamento é identificado mais facilmente em momentos de tensão, como a atual pandemia causada pelo coronavírus, que envolve questões de saúde, economia e política e gera desconfortos à população.
O serviço “Saúde sem fake news“, criado para analisar notícias falsas, percebeu movimentação intensa de compartilhamento de mensagens com conteúdo mentiroso sobre a Covid-19. De 22 de janeiro e 27 de fevereiro, foram analisadas 6.500 mensagens. 90% delas eram relacionadas ao novo vírus e 85% dos conteúdos sobre a doença eram falsos, o que exemplifica mais uma vez a tendência a concordar com informações inconsistentes em momentos negativos.
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