Colunista Jefferson FernandesEntretenimento

SERÁ O FIM DAS SALAS DE CINEMA?

Um novo estudo sugere que o fim das salas de cinema está mais próximo do que se espera.

Segundo o estudo, os expectadores trocaram os cinemas pelo streaming. A IndieWire mostrou que 66% dos americanos adultos escolheram plataformas como a Disney+ e Netflix ao invés das salas de cinema. O mesmo estudo aponta que 30% dos entrevistados responderam que somente assistem filmes no cinema algumas vezes ao ano, mas que veem filmes no streaming 3 vezes por semana. Sobre as razões da preferência do streaming ao cinema, 24% disseram não estarem interessados em ir a uma sala, enquanto 23% citaram higiene e cuidados sanitários. Outro ponto negativo para as salas foi que 52% preferem um filme de no máximo 2 horas, mesmo blocksbusters como Oppenheimer.

E quem é que aguenta duas ou três horas de filme contínuo, depois de um copão de 2 litros de refri?

A verdade é que a experiência de ir ao cinema mudou com o passar dos tempos. O que antes era o grande programa de fim de semana, com namorada/namorado, pipoca barata e bom filme (a depender do gosto do freguês), hoje é algo comum no fim de semana ou durante a semana, com pipoca a preço de um rim em uma sala no shopping e, assistir a um filme de roteiro e atores de qualidade duvidosa – em boa parte das vezes…

Em um passado não tão distante, as pessoas ficavam em silêncio durante o filme, se manifestavam raras vezes, em uma cena impactante ou engraçada, mas sempre com a supervisão do lanterninha que alertava sobre conversas, pés na cadeira e amassos explícitos eno escurinho do cinemay. Hoje, a profissão de lanterninha ficou no passado, amassos explícitos, pés na cadeira e muita conversa e até análise do filme – durante o filme – e muito xiu!, são comuns nas caras sessões de cinema… Além, é claro, dos celulares ligados logo após o começo do filme, as conversas, o empurra com os joelhos e pés a cadeira da frente… É como se o cinema fosse só para mim e os outros não tivessem a menor importância; parece que as pessoas se esqueceram de como se comportar nestes espaços e isso inclui também os teatros.

Do final dos anos 80 para trás, os filmes demoravam meses para passar na televisão e, em alguns casos, alguns anos! Como os filmes de Bruce Lee, dos anos 70, que foram exibidos na televisão 10 ou 15 anos depois, salvo engano. Os filmes também eram editados conforme a grade da emissora, o nu sempre era editado (não pode ter gente pelada às 22h – me lembro quando uma emissora do Paraná nos anos 90, tentou exibir Calígula na íntegra, a televisão foi tirada do ar – no meio do filme!), palavrão também era proibido nas dublagens, e como sou da época, até hoje quando fico bravo eu grito Maldição! (mesmo sabendo que isso na escala de ofensas não significa nada). Quando surgiram as locadoras de vídeo, a TV aberta teve seu primeiro baque, depois vieram as TVs a cabo (coisa que era comum desde o final dos anos 40 (!) nos Estados Unidos), depois os DVDs, e com eles o espaço entre um filme no cinema e no DVD era curto.

Talvez, a pandemia tenha contribuído com a constatação de que ficar no conforto de casa com uma tela grande, (uns de led com home theater e outros não), sofá amigo, pipoca de micro-ondas barata, a pausa, para diversas atividades paralelas e possibilidade de acelerar o filme, sem gente estranha falando/gritando durante o filme, sem gastar com estacionamento, ou passar nervoso no trânsito (na ida e na volta) se tornou uma experiência muito mais agradável e barata.

Se as salas de cinema vão acabar de fato, não dá para se ter certeza. Muita coisa foi profetizada como “vai acabar”, como, por exemplo, o rock, o vinil, a fita cassete… As TVs abertas, jornal impresso e o rádio ainda continuam “em aberto”. A arte do cinema, acredito que não, até porque, a linguagem cinematográfica já foi “transferida” para as produções de TV, certos tipos de edições, enquadramentos, película, etc., que só se via nos filmes da tela grande, agora se vê até em novelas! A influência que o cinema tinha sobre o comportamento e na cultura pop de uma maneira geral, tende a se perder, pelo fato de a experiência de ir ao cinema e “socializar” com outras pessoas, mesmo que de uma maneira passiva, não tenha mais tanta importância, porque como eu disse antes, as pessoas estão preferindo ficar no conforto de suas casas e sem gastar muito.

Creio que as salas de cinema deverão diminuir em número. O público que acredita que os filmes da Marvel são o exemplo da sétima arte (mesmo sendo um conceito do século XX), deva diminuir e os amantes do cinema [enquanto Arte] deva continuar, mas como se trata de nicho, o número deverá ser menor, o que fará com que as produções de milhares de dólares diminuam; até porque, hoje um paspalhão com um computador e/ou um celular consegue fazer qualquer coisa, inclusive um filme! Se é bom ou não, vai do gosto do freguês!

Por JEFF Fernandes, Psicanalista em formação,Jornalista, Produtor de áudio e Locutor

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