Jogos Online Crescem no Brasil com Avanços na Legislação e Aumento do Número de Jogadores
O Brasil vive um momento de transformação no universo dos jogos digitais. O acesso ampliado à internet, a popularização dos smartphones e mudanças na legislação sobre apostas criaram um cenário de crescimento acelerado tanto para os games recreativos quanto para as plataformas de apostas online. Os números mais recentes mostram que esse movimento já é uma realidade consolidada, e especialistas apontam que a tendência é de expansão contínua.
De acordo com a Pesquisa Game Brasil (PGB) de 2025, 82,8% dos brasileiros afirmam jogar algum tipo de game digital, seja em celular, computador ou videogame. O dado representa um salto de quase nove pontos percentuais em relação ao ano anterior, sinalizando a entrada de milhões de novos jogadores no mercado. Essa base de usuários inclui tanto quem busca jogos de entretenimento, como aventuras e puzzles, quanto aqueles que se arriscam em plataformas de apostas, que vêm conquistando espaço no cotidiano dos brasileiros.
Apostas online disparam e movimentam bilhões
O setor de apostas online, em especial, tem registrado índices de crescimento impressionantes desde que o tema passou a ser discutido no Congresso Nacional e recebeu avanços regulatórios. Entre 2021 e 2024, o mercado cresceu mais de 700%, ritmo que impressiona até mesmo em comparação com outros segmentos digitais. Em 2021, havia apenas 26 empresas operando no setor; três anos depois, esse número já havia saltado para 79.
Segundo dados divulgados pelo Banco Central, os apostadores brasileiros chegaram a movimentar até R$ 30 bilhões por mês entre janeiro e março de 2025, consolidando o país como um dos maiores consumidores desse tipo de entretenimento no mundo. Outro levantamento do DataSenado revelou que cerca de 22 milhões de pessoas realizaram algum tipo de aposta em apenas 30 dias, o que representa 12% da população.
Esses números evidenciam não apenas a popularidade crescente do setor, mas também a velocidade com que as plataformas digitais conseguem atrair novos públicos. Esse movimento se intensifica diante da regulamentação em andamento, que busca estabelecer regras claras de tributação, fiscalização e proteção ao consumidor.
Dos tabuleiros às telas digitais
O crescimento dos jogos online não se limita às apostas ou aos games tradicionais. Modalidades que antes pertenciam ao mundo físico migraram com força para o digital. Os jogos de tabuleiro ganharam versões virtuais, permitindo que famílias e amigos joguem juntos à distância. Jogos de cartas e partidas de bingo, antes restritos a encontros presenciais, também se popularizaram em aplicativos.
Até modalidades históricas de apostas, como o jogo do bicho, encontraram terreno fértil em plataformas digitais. Nesse contexto, destacam-se ainda as versões online das antigas raspadinhas, o tradicional jogo de raspar e ganhar dinheiro de verdade, que reproduz no celular a experiência antes restrita a bancas e lotéricas.
Popularidade traz riscos sociais e alerta autoridades
Esse processo de digitalização traz vantagens claras, como conveniência e acessibilidade. Jogar tornou-se mais democrático, já que basta um celular conectado para participar de uma partida ou fazer uma aposta. No entanto, o fenômeno também levanta preocupações sociais e econômicas.
Estima-se que cerca de 10,9 milhões de brasileiros com mais de 14 anos já joguem de maneira considerada de risco, ou seja, em um nível que pode comprometer a saúde mental, emocional ou financeira. Diante desse cenário, cresce a pressão por políticas públicas que equilibrem os benefícios econômicos da legalização com medidas de prevenção ao vício e apoio a jogadores vulneráveis.
A publicidade agressiva de casas de apostas em transmissões esportivas e plataformas digitais também se tornou tema de debate. Uma pesquisa nacional revelou que 66% dos brasileiros defendem a proibição da propaganda de apostas, preocupados com a influência sobre jovens e pessoas em situação financeira frágil. Especialistas defendem que a regulamentação inclua regras claras sobre limites de divulgação, além de campanhas educativas para informar a população sobre riscos e boas práticas no consumo de jogos online.
Potencial econômico coloca Brasil no radar global
Do ponto de vista econômico, o potencial é gigantesco. Se devidamente regulamentado, o setor pode se tornar uma importante fonte de arrecadação tributária, além de gerar milhares de empregos diretos e indiretos em áreas como tecnologia, atendimento ao cliente, marketing digital, compliance e auditoria.
Também há espaço para a atração de investimentos estrangeiros, já que grandes grupos internacionais buscam expandir suas operações em mercados promissores como o brasileiro. Os exemplos internacionais reforçam essa expectativa: nos Estados Unidos, cidades como Las Vegas e Atlantic City se transformaram em polos mundiais do turismo e do entretenimento graças à legalização dos cassinos. Na América Latina, países como Argentina, Chile e Uruguai já captam turistas brasileiros interessados nesse tipo de experiência.
Em Portugal, resorts integrados em Estoril e Lisboa combinam hotelaria de alto padrão com cassinos, movimentando a economia local. No Brasil, a ausência de um marco regulatório empurra consumidores para plataformas estrangeiras, o que significa perda de arrecadação e de empregos.
Um setor em busca de equilíbrio
O desafio brasileiro, portanto, é criar um ambiente regulado que aproveite o enorme potencial econômico e cultural dos jogos online, sem deixar de lado a responsabilidade social. A expectativa é que, com as novas regras em vigor, o setor se torne um dos pilares do entretenimento digital no país, equilibrando inovação, segurança e geração de riquezas.
O crescimento dos jogos online no Brasil é, ao mesmo tempo, um reflexo das mudanças tecnológicas globais e uma oportunidade singular para a economia nacional. Cabe agora ao poder público, às empresas e à sociedade encontrar o ponto de equilíbrio entre expansão de mercado, proteção ao consumidor e desenvolvimento sustentável do setor.
Imagem de Victoria por Pixabay

