Colunista Jefferson FernandesEntretenimento

A inteligência Artificial vai tirar o emprego dos dubladores?

Com o avanço, cada dia mais rápido, da Inteligência Artificial colocando muitas profissões em risco, dubladores brasileiros criaram uma campanha que pede a regulamentação do uso da I.A. em produções audiovisuais. Os dubladores temem que a I.A. substitua artistas humanos.

Em 2013, pesquisadores da Universidade de Oxford publicaram alguns números sobre o futuro do trabalho nos Estados Unidos: 47 por cento de todo o trabalhador americano estará em risco com a automação, por volta de duas décadas. Aparentemente foram bem “otimistas”.

Mais recentemente, a Goldman Sachs estimou que a tecnologia por trás da I.A., como DALL-E e ChatGPT, poderiam automatizar o equivalente a 300 milhões de empregos em tempo integral.

O Sindicato dos atores, nos Estados Unidos, que representa mais de 150.000 artistas de TV e cinema, anunciou na semana passada, um acordo para licenciamento de dublagem de Inteligência Artificial em videogames. Esse acordo estabelece proteções em torno do licenciamento de vozes replicadas digitalmente. Licenciamento e não proibição! Para não virar Terra de Ninguém – como se isso fosse possível no mundo digital…

Em novembro do ano passado, um grupo de artistas entrou com uma ação judicial de direitos autorais contra um grupo de empresas especializadas em arte gerada por I.A. – entre elas, a Midjourney, que para treinar a sua I.A. usou o trabalho de milhares de artistas vivos e mortos.

A tecnologia de voz sintética pode ser (e será) usada para clonar vozes de pessoas reais, bem como gerar vozes sintéticas, assim sendo, criando “deepfakes” que podem ser usados ​​em fraudes, roubo de identidade e golpes financeiros. Além de gerar muita desinformação em torno de figuras públicas, os profissionais da voz perderão espaço, já que alguns dizem que a I.A. pode imitar arte, seja na inspiração, noção de estética, ou seja, na expressão da subjetividade humana. No caso, a do artista de Inteligência Natural!

A plataforma Spotfy, já tem o recurso “A.I. Voice Translation”, onde podcasts podem ser traduzidos para outros idiomas, não por falantes desse idioma, mas por vozes sintéticas de I.A. parecidas com a do locutor original! (Aquele profissional que ganhava dinheiro oferecendo esse tipo de serviço.)

O que os dubladores temem, além da perda do emprego, é que as plataformas digitais possam licenciar suas gravações para treinar sistemas generativos de I.A. e terem suas vozes para o resto da vida à disposição, por um valor simbólico ou “de grátis“! E isso vale para os profissionais da voz em geral, não só para os dubladores, mas também locutores, artistas da voz, narradores, cantores, etc.

E não se pode deixar de acrescentar, sobre o uso não autorizado em conteúdo desagradável, fake news ou retórica de ódio sem o consentimento e/ou conhecimento, como, inclusive, já vem sendo feito!

Em dublagem, não basta traduzir e trocar o áudio, é preciso um detalhe chamado lipsync ou sincronização labial, para que a dublagem não fique “muito fora” da boca do personagem. Mas isto, não é mais um problema!!!

A empresa Monsters Aliens Robots Zombies de Jonathan Bronfman, criou o LipDub AI, que manipula digitalmente as expressões faciais dos atores, para que elas correspondam às palavras faladas em línguas estrangeiras. Morgan Freeman, por exemplo, falará em alemão, em espanhol ou em mandarim, com a boca dos nativos de cada país. Bom, né?! Logo, logo este tipo de tecnologia estará com download free crackeado para todo mundo baixar e usar a vontade!!!

Aqui no Brasil, o site https://dublagemviva.com.br/ está com uma campanha em busca da regulamentação da I.A.:

“Nenhuma obra que tenha sido concebida por uma inteligência artificial generativa ou de qualquer tipo poderá ter seus direitos autorais garantidos como a legislação brasileira prevê, uma vez que ela emula sem consentimento o trabalho de outros artistas, estes sim, detentores desses direitos.

Nosso interesse não é proibir nenhuma evolução tecnológica, queremos apenas garantir que o que é apenas uma ferramenta de criação não passe a ser entendido como o nosso criador.”

Portanto, não há interesse em proibir, e sim, em regulamentar para poder todo mundo conviver em paz! Talvez seja um passo positivo, já que no passado, não tão distante, quando o Napster surgiu, ao invés de “negociar” e viver junto, a indústria fonográfica foi radicalmente contra e deu no que deu… E hoje, quase ninguém se lembra que existem gravadoras.

Eu posso usar a minha máquina do pessimismo e lembrar de brigas apenas do final do século passado. Por exemplo, a briga das rádios contra as rádios de internet, hoje elas estão juntas e de mãos dadas. O monopólio das grandes redes de TV contra as TVs a cabo e depois contra o streaming, e hoje, aparentemente, muita gente só assiste TV aberta, por falta do cabo ou da Internet, porque a vez é do streaming. A centralização e o alto preço dos grandes estúdios de gravação de música; hoje se baixa vários programas piratas e qualquer um(!), mesmo sem conhecimento musical, faz música e, de quebra, da mesma loja do tapa-olho com papagaio no ombro, baixa os de vídeo e produz seu próprio videoclip! Poderia me estender para o cinema, para o jornalismo, formadores de opinião – alguns com aversão a língua portuguesa -, entre outros, mas eu não vou.

O que (também) é trágico nisso tudo, é a possibilidade da dublagem ficar apenas para alguns dubladores muito conhecidos e principalmente os STAR-TALENTS (pessoas famosas, muitas vezes, sem a menor noção de interpretação – atores ou não -, mas que certos “gênios da raça”, ocupando cargos importantes em distribuidoras de filmes, acreditam que este tipo de escolha pode melhorar o arrecadamento do filme).

Por fim, no caso em tela (a dublagem), entre várias perguntas, a mais pertinente parece ser:

A dublagem pode ser substituída por I.A., mas será que deve?

Por JEFF Fernandes, Psicanalista em formação,Jornalista, Produtor de áudio e Locutor

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