Colunista Jefferson FernandesEntretenimento

Rádio e TV convencionais estão com os dias contados?

Respondendo ao título, ao que tudo indica: Sim!

A sociologia e a psicologia podem nos dar algumas pistas: as mudanças estruturais e de comportamento na sociedade, nos meios de comunicação e no acesso à informação.

Segura aqui na mão do tio e vamos por partes…

COMEÇO DO FIM (?)

Com a popularização e o avanço da internet — em especial das redes sociais e do streaming —, as pessoas agora têm o gosto (poder) de consumir conteúdo da forma como bem entendem, o que é diferente da programação fixa e repetitiva do rádio e da TV.

Estes são meios verticais (conteúdo → audiência); já a internet é horizontal, onde qualquer um pode produzir e consumir conteúdo. E, como se dizia nas aulas de filosofia do bar do Zinfrônio:

“Na horizontal, somos todos do mesmo tamanho…”

DIGITAL

O digital valoriza a interatividade e a liberdade de escolha — algo que rádio e TV não permitem. Participar, compartilhar, comentar, curtir e descurtir não são possíveis nos meios tradicionais, assim como conhecer os números de quem gosta ou desgosta de algum conteúdo. Isso fica a cargo das pesquisas, que informam, se quiserem, de forma resumida, o que vai bem ou mal. Já para veículos e agências de publicidade, essas informações são disponibilizadas de forma extremamente detalhada.

DOPAMINA

A gratificação instantânea que as mídias digitais oferecem — ao permitir curtir, comentar ou reagir —, somada aos estímulos multissensoriais (som, imagem, movimento e interação), faz com que nosso cérebro prefira aquilo que gera mais dopamina (prazer).

Isso torna as plataformas digitais viciantes, ao contrário do rádio e da TV, que ainda tentam ditar o que devemos gostar.

PIRATARIA

No caso da música, em um passado não tão distante, a indústria se garantia nas vendas físicas e no rádio.

Veio a pirataria dos CDs e, depois, a internet — que mataram as vendas.

Mas a Terra Prana é prena e num pára de dá vortas…

Então veio o streaming, que começou a matar lentamente (pero no muy) o rádio. Por um precinho camarada, podemos ter acesso a milhares de músicas e playlists que nós mesmos escolhemos: uma rádio particular!

Dúvidas? Uma pesquisa da Midia Research, do Reino Unido (midiaresearch.com) de setembro deste ano, demonstrou que o rádio não é mais o meio preferido para descobrir música nova.

TRETA

No YouTube, assistimos obrigatoriamente a um ou dois comerciais de 5 ou 15 segundos — a menos que paguemos por um plano premium. É claro que se pode “virar o dial” do YouTube para outro canal… com o risco de mais comerciais!

Assim sendo: não existe almoço grátis. A liberdade de escolha tem seus preços — tanto o da escolha em si (que pode ser boa ou ruim), quanto o valor a ser pago ao canal, direta ou indiretamente.

Mas, em se tratando de TRETA, nem o X supera o YouTube. E é disso que o povo gosta: treta — e ainda poder dar pitaco, aplaudir e xingar quem a gente não curte!

RETROALIMENTAÇÃO

O mundo virtual recebe, consome e vicia as pessoas numa busca constante por ter mais com menos:

Mais textos que viram frases curtas,

Mais álbuns de fotos que agora são apenas fotos,

Mais vídeos com durações cada vez menores,

E, claro: música! Músicas cada vez mais curtas. Músicas que qualquer pessoa com um celular ou computador pode produzir — ou melhor: que qualquer pessoa pode criar com um prompt para sua IA de estimação e… voilà! Suuuucesso!!!

HIBRIDIZAÇÃO

Aparentemente, alguns diretores de rádio e TV — os que são mais do que apenas título, cadeira ou “fotinha e vídeozinhu” no Facebook ou Instagram — perceberam isso e apostaram na hibridização com a internet.

Alguns canais de TV já realizaram o sonho do streaming próprio. O mesmo vale para algumas rádios, que transmitem ao vivo por diversos canais.

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”

— Charles Darwin

SINAL

Uma notícia que também serve de pista (no caso do rádio):

A partir do ano que vem, o tradicional Radio Academy Festival, de Londres, passará a se chamar Audio Academy!

Essa mudança de nome — para quem abraça o futuro — não diminui o rádio, mas o coloca ao lado dos demais meios de áudio. Para quem ama o rádio, porém, pode soar como um golpe violento contra o veículo. Ou até o fim de uma era.

Para quem não sabe, o Radio Academy Festival, desde 1983, discute, entre vários temas, o futuro do rádio. Neste ano, o foco foi o futuro do áudio, o poder das rádios online, a evolução do som como dados, entre outros assuntos…

PODCASTS / PODRECASTS

A hipersegmentação e a interatividade parecem ser o futuro dos meios de comunicação. Os podcasts são considerados, por muitos, a evolução do rádio — ou, por outros, da TV.

MAIS DO MESMO

No meio de toda essa acelerada evolução, as TVs que insistem em formatos ultrapassados desde as décadas de 1970 e 1980 estão sofrendo com baixíssimos índices de audiência. E o rádio que insiste apenas em tocar música também!

NEWS

Há alguns dias, uma grande rede de rádio mudou de nome e segmento. Enquanto isso, foi decretado o fim (definitivo) da MTV no Brasil.

FAKE NEWS

Neste momento de tantas novidades e de ainda mais fake news, canais confiáveis de informação são essenciais — assim como pessoas capacitadas para lidar com os meios de comunicação.

Diferente dos “gênios da raça” de grandes rádios e TVs de antena, que acreditam em pesquisas de sites dizendo que o rádio está 1.455% à frente do streaming e que a TV vive sua melhor fase… e, com isso, continuam fazendo rádio e TV como se ainda estivéssemos nos anos 80 e 90!

Ad finem

Talvez esteja chegando — se já não chegou — o momento de ir ao riacho do Ipiranga, fazer uma live e gritar:

Reinvenção ou desaparecimento!!!

(O Museu do Ipiranga funciona de terça a domingo, das 10h às 17h.)

Para encerrar, cito Heráclito de Éfeso (filósofo grego):

“Nada é permanente, exceto a mudança.”

Por JEFFerson Fernandes

JEFF Fernandes, Psicanalista em formação,Jornalista, Produtor de áudio e Locutor

Instagram