Encaixes japoneses: conheça técnica milenar que eleva a marcenaria à arte
Conhecida como “wafu”, técnica japonesa de marcenaria impressiona por fazer com que peças se encaixem sem auxílio de pregos ou parafusos
Construir também é arte no Japão. A técnica milenar de marcenaria, que possibilita que casas, objetos, templos e móveis sejam construídos, com resistência e segurança, sem o uso de pregos, parafusos ou cola, conhecida como “wafu”, foi passada de geração em geração como um ritual e foi muito usada durante a Segunda Guerra Mundial por necessitar de pouca matéria-prima.
Resgatada nos últimos anos pela nova geração de arquitetos japoneses para criar fachadas de museus, edifícios e lojas, a técnica está sendo levemente esquecida por conta dos profissionais que buscam se distanciar das tradicionais referências japonesas.
Uma das obras mais famosas em que a prática foi aplicada é o templo budista Kiyomizu-dera, em Kyoto. O templo foi fundado em 798 por Shogun, um antigo comandante do exército japonês, e, em 1633, recebeu uma ampliação em seu projeto arquitetônico. O Kiyomizu-dera foi reconhecido como patrimônio mundial da UNESCO e está de pé há mais de 380 anos, graças à sofisticação empregada nos detalhes do seu entalhe.
No Brasil, a “wafu” pode ser encontrada na fachada da Japan House – centro cultural japonês na cidade de São Paulo – e também no Pavilhão Japonês, dentro do Parque Ibirapuera. A fachada do centro cultural, inaugurado em 2017, foi um projeto do premiado arquiteto Kengo Kuma, e o Pavilhão Japonês foi um presente do governo do Japão para a comunidade nipo-brasileira. O espaço, elaborado pelo arquiteto Sutemi Horiguchi, em 1954, tem como princípio unir técnicas modernas e tradicionais.
Para quem trabalha, ou consegue reconhecer uma boa peça de madeira, estes encaixes são arte pura, e, além de uma boa lixadeira para um acabamento bem delicado e refinado, é necessário ter conhecimento e respeito pela matéria-prima. A técnica de encaixe faz com que a peça fique mais firme, porém o clima em que este objeto será inserido pode influenciar no comportamento da madeira utilizada na confecção. Por isso, o encaixe também é bem útil para artesãos que buscam uma maior durabilidade das suas peças. Se a madeira ceder, devido à exposição solar ou umidade, é possível fazer ajustes, e ela pode durar por muito mais tempo.
Os encaixes demandam muitos anos de estudo e alguma prática, e é um estudo multidisciplinar, pois o marceneiro precisa conhecer o comportamento dos diversos tipos de madeiras, ergonomia e afiação das peças, além de entender como funcionam os encaixes.
A marcenaria nipônica é muito diferente da marcenaria europeia, e isso se reflete na forma que os conhecimentos são absorvidos e passados adiante. No Japão, os marceneiros mais jovens aprendem as técnicas com os mais velhos e são presenteados pelos tutores com ferramentas de trabalho melhores que as deles. Por estes motivos de tradição e respeito, é possível dizer que a técnica milenar está bem preservada em terras japonesas.
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