Projeto de fomento produtivo melhora renda de agricultores familiares do Semiárido
Ela é uma das agricultoras familiares beneficiadas pelo Projeto Dom Helder Câmara, ação financiada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas em apoio ao desenvolvimento rural sustentável na região do Semiárido.
Renata Fernandes é moradora da comunidade Jundiaí Figueiras, no município de Orobó (PE). Foto: ANATER
Plantar. Colher. Sobreviver. Lutar. Sonhar. Esses verbos sempre fizeram parte da vida de Renata Fernandes, moradora da comunidade Jundiaí Figueiras, no município de Orobó (PE).
A agricultora trabalha na terra há anos para ajudar a família. Primeiro, acompanhando a mãe nas atividades no campo e cuidando de algumas cabras, pois perdeu o pai aos nove meses. Depois, trabalhando na área onde mora com o marido, a filha, a mãe e uma irmã.
Ela é uma das milhares de famílias beneficiadas pelo Projeto Dom Helder Câmara (PDHC), projeto que tem como objetivo realizar ações referenciais de combate à pobreza e apoio ao desenvolvimento rural sustentável na região do Semiárido.
O PDHC é realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em conjunto com a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER) e outras instituições, por meio de acordo de empréstimo firmado entre governo brasileiro e Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas.
Atualmente, o PDHC atua em 913 municípios em 11 estados. Além de Pernambuco, o projeto está presente em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Sergipe, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Espírito Santo, apoiando cerca de 60 mil famílias e beneficiando diretamente em torno de 126 mil pessoas.
Chefe de família
É Renata, de 27 anos, quem faz a vida se movimentar para a família. Semianalfabeta, ela acorda às 4 horas da manhã para plantar, colher e cuidar dos poucos animais. Incansável, foi ela quem cortou os mourões e cercou o terreno, fez o galinheiro e a cocheira dos animais.
É ela também quem sai, diariamente, para comercializar alguns produtos na vizinhança ou em feiras. Para isso, chega a andar duas horas debaixo de sol. Por motivos de saúde, o marido não consegue fazer atividades que exijam grande esforço, mas a ajuda em algumas atividades em campo, e leva e busca a filha do casal no trajeto para a escola.
Novas oportunidades
A agricultora conta que conheceu o projeto por acaso. Procurando trabalho como ajudante de pedreiro, ela foi até uma Unidade de Referência, onde estava sendo realizada uma atividade de divulgação de boas práticas de comercialização, com técnicos que prestam serviços para o PDHC no estado.
Pelo serviço de ajudante, Renata ganharia apenas 20 reais por dia, ao contrário dos 60 reais pagos para um homem que executa o mesmo serviço.
Como na casa da família de Renata faltava alimento e dinheiro para comprar itens básicos, ela ouviu, desconfiada, mas interessada, a explicação da técnica Eliane Nery, do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, sobre como os agricultores podiam ampliar a renda beneficiando alguns produtos.
O Centro Sabiá realiza as atividades de orientação e incentivo ao desenvolvimento rural sustentável, juntamente com a Instituto Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) local, contratados pela Anater para a execução do serviço.
A assistência técnica e extensão rural é o eixo central do PDHC, com foco em qualificar os sistemas produtivos locais, contribuindo com o repasse de conhecimento aos produtores, com a difusão de tecnologias sociais (boas práticas) e otimizando as políticas e programas públicos voltados para a produção rural sustentável.
Com a ajuda da técnica e da irmã, Rosi, Renata investiu 30 reais para comprar amendoim, coco, farinha, manteiga e açúcar, e fez pé-de-moleque, beiju e bolo de mandioca para vender na Feira Agroecológica de Surubim, distante cerca de 50 km de sua casa. A iniciativa deu certo e elas conseguiram 105 reais. Renata entendeu que valia a pena fazer parte do projeto e ouvir o que a extensionista ensinava.
Sempre orientada via PDHC, Renata recebeu sementes do projeto e passou a comercializar parte do que produz, construiu um galinheiro e uma cocheira, que aprendeu a fazer com a extensionista, que a visita semanalmente, e participou de intercâmbios e oficinas, junto com outros agricultores familiares.
“Com a participação na feira, pude aumentar um pouco minha renda, plantar mais itens, comprar os animais e pagar algumas contas. Hoje, saio negociando tudo que a gente colhe: mandioca, banana, couve, seriguela, o que der. Coloco alguns cocos na carroça e saio oferecendo pela vizinhança e na cidade mais próxima. No entanto, precisamos crescer mais, para não passar tanta dificuldade, para minha filha e minha família terem uma vida melhor”, pondera.
Segundo Renata, com o projeto, ela viu que vale a pena o esforço e o desejo de uma vida melhor. “Eu não tinha nada. Hoje em dia passamos por menos dificuldades e tenho certeza de que vai melhorar ainda mais. Sonho em ter uma moto simples para não precisar andar tanto para vender; quero ter uma forrageira, uma cisterna, porque precisamos de água para plantar, e aqui tem épocas bem difíceis, sem chuva por meses; e quero plantar capim para ter alguns bois. Ainda tenho muito sonho para realizar e muito força de vontade para trabalhar”, planeja.
Anater promove seminário de alinhamento do projeto D. Helder Câmara
A ANATER promoveu na quinta-feira (18) um seminário virtual sobre o projeto Dom Helder Câmara. Em sua segunda fase, a expectativa dos coordenadores é que o projeto seja ampliado por mais dois anos.
O seminário reuniu representantes do FIDA, da Universidade de Brasília (UnB) e da Secretaria de Agricultura Familiar e cooperativismo do MAPA, além da equipe técnica da ANATER.
ANATER
Na abertura, o presidente da ANATER, Ademar Silva Jr, destacou a importância de avaliar o que está sendo feito e as possibilidades de melhoria das ações.
O oficial de programas do FIDA, Hardi Vieira, apresentou um contexto da atuação da instituição no Brasil e explicou que, além de ser um agente financeiro, o FIDA tem vários projetos em execução no país, com investimento na agricultura e na redução da pobreza rural.
FIDA
De acordo com ele, a atuação do FIDA no país tem o foco geográfico no Semiárido do Nordeste, tendo como público-alvo agricultores familiares, assentados da reforma agrária, trabalhadores rurais e comunidades extrativistas, priorizando mulheres, jovens, quilombolas e indígenas.
Um desses projetos é o D. Helder Câmara, que tem como objetivo realizar ações referenciais de combate à pobreza e apoio ao desenvolvimento rural sustentável na região do Semiárido.
“A parceria com a ANATER se tornou estratégica e fundamental para o êxito do PDHC. E a realização desse seminário, num momento de reconfiguração do projeto, é importante porque dá um novo ímpeto e possibilita que todos os envolvidos possam se apropriar dos seus os objetivos”, avalia.
O PDHC
A primeira fase do Projeto Dom Helder Câmara foi realizada entre dezembro de 2000 e dezembro de 2009, em seis estados do Nordeste, beneficiando 15 mil famílias (346 associações/77 municípios).
“Além das ações que estão sendo apoiadas no projeto atualmente, essa primeira fase do PDHC teve como diferencial a educação contextualizada e alfabetização e o apoio ao acesso aos serviços financeiros e de crédito”, destaca Emanuel Bayle, consultor em desenvolvimento rural do FIDA.
A segunda fase do PDHC, iniciada em agosto de 2014, integra 913 municípios dos estados de Pernambuco, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Sergipe, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte (Nordeste) e Minas Gerais e Espírito Santo (Sudeste), apoiando cerca de 60 mil mil famílias e beneficiando diretamente em torno de 126 mil pessoas.
Em preparação para uma nova fase, o projeto D. Helder Câmara está realizando o monitoramento e avaliação das ações que estão em execução.
O trabalho está sendo realizado pelo projeto Monitora, da Universidade de Brasília, cujos resultados vão dar suporte no planejamento, gestão do conhecimento e avaliação das ações.
“Essa pesquisa vai conferir qualidade e chancela científica às ações bem-sucedidas do projeto”, destaca o professor Mauro Del Grossi, coordenador de pesquisa da UnB.
*Texto de Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER)