Colunista Jefferson FernandesEntretenimento

Narciso (ou Eu, Mim e Mim mesmo)

Você já se deparou ou convive com um narcisista?

Como ter certeza? Vou tentar ajudar…

Começando pelo princípio, segundo o vocabulário da psicanálise (Laplanche e Pontalis), o termo se refere ao mito de Narciso, o amor pela imagem de si mesmo (refletida no espelho d´agua). Entre Paul Nacke, Otto Rank, Freud é quem populariza o termo (famoso na pintura de Caravaggio), usando-o pela primeira vez, em 1910 e a partir de então, ele (o termo) se “consagra” na psicanálise.

Por maior que seja a tentação em abraçar o contemporâneo no ramo do catálogo e da leitura fast food, não se pode e nem se deve enumerar 10 traços de um narcisista, assim como não se deve elencar 5 características de um depressivo, 20 tipos de melancólicos ou de qualquer coisa relacionada a um indivíduo, já que a gama de variações e tipos, além de complexas, podem beirar ao infinito! Portanto, simplificar pessoas é de uma idiotia sem tamanho!

Gostaria de tentar dar um panorama sobre este tipo, muito comum em nossa sociedade. Que pode estar na escola, academia, no trabalho e no lar doce lar.

Começando que o narcisista apenas vê o que ele quer ver e interpreta tudo de maneira confusa, geralmente, se não sempre, de modo pessoal. Tudo é sempre para ele, por causa dele e sobre ele. Sendo que, na maioria das vezes, as pessoas nem sequer pensam nele ou lembram de sua existência. Para ele, essa fantasia é essencial, como se fosse um combustível para sua sobrevivência! Citando a romancista britânica do 19, George Eliot: “Era como um galo que acreditava que o sol havia subido para ouvi-lo cantar”.

Essa necessidade constante em ter a autoestima elevada se contrapõe, não somente, ao fato de ter um (ou mais) complexo(s) de inferioridade, mas também, invariavelmente, em ser medíocre. Medíocre, na verdade, ao contrário do que diz o senso comum, vem do latim “mediocris” e significa médio. Atualmente, o termo se tornou pejorativo, descrevendo a pessoa como ruim, insignificante, péssima, etc. Pode-se, nesse caso, aplicar médio para uns e ruim para outros!

A literatura psi, descreve alguns tipos de narcisistas, mas quero focar exclusivamente no narcisista perverso, o qual é o tipo mais nocivo, onde destrutividade e tendência à extraterritorialidade, ou seja, a tentativa de comprometer o outro, são traços comuns.

Em primeiro lugar, o narcisista perverso tem algumas características “que vêm de fábrica”. A habilidade em manipular as pessoas, especialmente com mentiras; a falta de empatia, embora ele possa ser legal e encantador também, mas isso apenas como um truque para se aproximar de sua potencial vítima. Arrogância também vem no pacote. Normalmente é um abusador emocional. O narcisista tem muita dificuldade em aceitar críticas (pedir desculpas, também!) e, pode, com isso, chegar a ter explosões de ira, causando papelões rocambolescos dignos de uma tragédia grega ou de uma ópera bufa! Já que isso também o coloca no centro das atenções, que é outra característica dele.

Tudo bem até aqui? Já se lembrou de um familiar, um colega, um conhecido ou conhecida?

Vamos em frente!

Controle. O narcisista gosta de estar no controle. Isso lhe dá a falsa sensação de poder.

Por outro lado, um narcisista pode ter um certo poder sobre suas vítimas, porque uma das táticas do narcisista em obter controle é tirar a sua vítima do sério, para poder assumir o controle da situação; e quando tudo mais falha, o narcisista assume uma posição de vítima, onde o chamado “coitadismo” entra em cena e podemos, então assistir a um espetáculo ridículo de pura “canastrice” de um dramalhão mexicano. Lembremos que controle/poder são posições temporárias.

Embora existam incontáveis variações, na maioria das vezes, o narcisista se acha um gênio ou gênio incompreendido, mas, no fundo, não passa de um genioso…

Quando um narcisista é deixado de lado, ou acredita não receber a atenção que pensa ser merecida ou falha em manipular pessoas (lembre-se que um manipulador parte do princípio, consciente ou inconsciente, de que o manipulado é estúpido e ele, o manipulador, é inteligentíssimo) ele fica extremamente frustrado e pode com essa frustração gerar uma reação extremada.

O psiquiatra e psicanalista francês Paul-Claude Racamier definiu: “o perverso narcisista se faz valer a expensas de um outro”.

Talvez a pergunta agora seja, será que todo narcisista é um demônio em potencial? Não! Mas pode ser? Sim! Mas, mais uma vez: não se pode tomar a parte pelo todo, regrar esse ou aquele comportamento e/ou patologia é um erro, devido ao leque de variações de cada indivíduo, por uma infância infeliz, acontecimentos na adolescência ou até mesmo por uma patologia.

Alguns narcisistas famosos: Dorian Gray de Oscar Wilde, o Coringa, a Rainha Má da Branca de Neve (espelho, espelho meu…), Johnny Bravo, Lúcifer…

Então, se há algum em sua vida, ele só está por ser alguém querido (apesar dos pesares), por uma necessidade qualquer ou você é masoquista. A melhor maneira de se vencer uma guerra contra um narcisista perverso é desistir da guerra! Pois, ele está disposto a lançar mão de qualquer recurso (do mais honrado ao mais sujo) para vencer a guerra, você não!

Porém, se você também é capaz de usar qualquer recurso para “vencer” um oponente, isso significa que há mais de um narcisista nessa cena…

Por JEFF Fernandes, Psicanalista em formação,Jornalista, Produtor de áudio e Locutor

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