Colunista Jefferson FernandesEntretenimento

EXISTE ETIQUETA NA INTERNET?

A comunicação é uma habilidade humana, muito importante que, além de ser fundamental para a construção de relacionamentos saudáveis e novas ideias, serve também para prevenir conflitos e mal-entendidos ou criar ambos – dependendo da intenção…

Existe algum protocolo ou etiqueta quanto ao tratamento com o outro na Internet?

Não me refiro à “Netiqueta”, aquela usada no ambiente corporativo, que é um festival de obviedades, mas aparentemente necessária!

Me refiro, por exemplo, aos mensageiros eletrônicos; devo saudar a pessoa (bom dia, boa tarde ou boa noite) antes de dizer algo? Ou isso é coisa das gerações X, Y ou baby boomers (gente velha)?

Ao conversar com uma pessoa, no final da conversa, devo me despedir ou simplesmente paro de “falar”?

Para terminar uma conversa, mesmo que a pessoa me mande um texto longo, devo apenas mandar um joinha (mesmo correndo o risco de a pessoa achar que mandei o tal emoji, só para encerrar a conversa)?

O que é um textão? Duas linhas? Três linhas? Cinco linhas? E dez linhas, já é um livro? Depende de quem escreve; se for eu, preciso falar, desabafar, brilhar, ser compreendido; se for o outro, é um tagarela, chato, sem noção!

Em um áudio, deve-se falar quanto para ser considerado o mínimo? Cinco segundos ou dez? Um minuto já é um podcast? Ou essa regra é para disfarçar que meu interesse pelo que o outro tem a dizer inexiste?

Nas palavras de Jacques Lacan, “Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou”. Lacan se referiu a um diálogo, mas o que dizer sobre “conversa” por aplicativo, onde a única certeza é daquilo que você escreveu?

No mundo pós-moderno – ao que tudo indica -, quanto menos, melhor! As pessoas têm muita coisa para ver e fazer; querem ver e fazer tudo e acabam não vendo e nem fazendo nada… Tudo é tanto… E um tanto de tudo acaba sendo nada!

Um milhão de amigos cantado por Roberto Carlos agora é possível – pelo menos, no Facebook! – mesmo eu não conhecendo 1% desses “amigos”, mas o importante é ter!

No Instagram, eu sigo pessoas e pessoas me seguem. O que o termo “seguir uma pessoa” há algum tempo significava compartilhar/concordar com suas ideias ou, na pior das hipóteses, ser um stalker, detetive ou policial; hoje é ser uma espécie de amigo sem se-lo… Saída que o criador do Facebook encontrou como sinônimo para diferenciar uma rede social da outra…

O Twitter – hoje X – nos deu uma pista sobre economia de palavras (com poucas), depois aumentando um cadinho mais. Afinal, escrever muito pode tirar o tempo das pessoas para ficar lendo, o que talvez seja proibido é matar a preguiça e o interesse pelo que o outro tem a dizer… Por outro lado, hoje todo mundo tem muito o que dizer e sobre tudo!!!

Críticos de música e cinema, analistas políticos e toda a sorte (ou azar) de especialistas que despejam seus “conhecimentos” na internet para outros sábios tão sabidos que sabem tudo e um pouco mais, verdadeiros professores de Deus, muitos, inclusive, formados na Universidade WhatsApp de Conhecimentos Gerais em Poucas Linhas, que se deleitam com tamanha sabedoria.

Então, como conversar e tratar essas pessoas tão especiais nas redes sociais? Estarei sendo grosseiro se não me despedir no final de uma conversa pelo WhatsApp, Telegram, Messenger ou tanto faz?

Estarei sendo arrogante se eu discordar ou pedir uma explicação mais detalhada/fundamentada de alguma afirmação feita por algum gênio da raça nas redes sociais?

Na (aparente) lógica contemporânea, se fulano é A, logo sou B ou vice-versa; por que só existem estas duas letras?

Preciso mesmo colocar “contém ironia” para saberem que sou espirituoso ou mesmo ácido em um comentário?

Tenho mesmo que comentar tudo nas redes sociais, até postagens de coisas ou pessoas de quem não gosto e assuntos que não me interessam ou desconheço? Por quê?

Para quem a minha opinião é relevante? Para todo mundo!!! Pelo menos, dentro da minha cabeça… E possivelmente apenas dentro dela… Ao que tudo indica, todo mundo agora tem muito o que dizer e pouca gente para ouvir… Então, na pior das hipóteses, quando falo, eu falo com os outros ou falo para os outros?

Volto com a pergunta: existe algum protocolo ou etiqueta na internet? Continuo falando para todo mundo, enquanto ninguém me ouve?

Será que alguém leu até aqui?

Por JEFF Fernandes, Psicanalista em formação,Jornalista, Produtor de áudio e Locutor

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