Por que é mais difícil perder peso conforme a idade avança?
Para contornar essa situação, é preciso ter atenção à alimentação e ao estilo de vida.
Com o passar dos anos, o corpo humano passa por diversas mudanças que impactam não apenas a aparência, mas também a composição corporal. A proporção de músculos e gordura no organismo se altera, tornando mais difícil o emagrecimento para aqueles que buscam ou precisam perder peso.
A endocrinologista Sylka Rodovalho, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (Sbem-SP), explica que essa transformação é um fenômeno involuntário e natural, não sendo possível contê-la. “Criamos muito mais tecido de gordura do que músculos. Há uma desproporção entre células de gordura e células musculares”, afirma.
As alterações metabólicas e hormonais dificultam ainda mais o processo de emagrecimento, como a redução da taxa metabólica basal, ou seja, quantidade de calorias que o corpo queima em repouso. Essas mudanças exigem adaptações no estilo de vida e na alimentação, com estratégias que incluem exercícios físicos regulares, dieta balanceada e até mesmo a adoção de medicamentos em casos mais graves, como o uso de Mounjaro.
Sem essas intervenções, o acúmulo de gordura, especialmente na região abdominal, torna-se mais provável, criando um ciclo difícil de romper e impactando a saúde geral do indivíduo. Segundo a médica da Sbem-SP, esse aumento abdominal não é de um tecido de gordura tão saudável, inflama mais e aumenta a incidência de algumas doenças.
A nutricionista da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Simone Fiebrantz Pinto, aponta que as pessoas passam a perder massa muscular aos 30 anos, idade em que começamos a ter uma modificação da constituição corporal.
Ela explica à imprensa que, além do próprio envelhecimento, outros fatores podem acelerar esse processo de perda de massa muscular, como sedentarismo, condições genéticas, doenças crônicas, má nutrição, doenças oncológicas, diabetes e o uso de algumas medicações com corticoide.
Manter um peso saudável também é importante para diminuir o risco de desenvolver outras condições, como doenças cardíacas, hipertensão, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer, conforme alertam institutos nacionais de saúde. No entanto, isso pode se complicar à medida que envelhecemos.
Medicamentos auxiliam na perda de peso
No começo de 2023, o tratamento da obesidade ganhou uma nova opção com a aprovação do uso do medicamento Wegovy (semaglutida 2,4 mg) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A vice-presidente da área médica da Novo Nordisk, Priscilla Mattar, diz que este é o primeiro medicamento com resultados inéditos de perda de peso com segurança comprovada. “Ele representa um marco no tratamento da obesidade, reconhecida como doença crônica pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2013”, destaca a endocrinologista.
É comum existirem dúvidas sobre para que serve Wegov e como ele funciona na prática. De acordo com a Sbem, a semaglutida atua em diferentes locais e tem múltiplas ações, entre elas a promoção de perda de peso por meio da redução da ingestão calórica, com aumento da saciedade e da diminuição da fome
O estudo publicado no The New England Journal of Medicine, com mais de 2000 participantes, demonstrou que aqueles que usaram semaglutida perderam, em média, 15% do peso corporal em 68 semanas, comparado a apenas 2% entre aqueles que receberam placebo. Alguns pacientes perderam até 20% de seu peso inicial.
Outros medicamentos também têm se destacado no combate à obesidade, como o Monjauro, usado no tratamento da obesidade e da diabetes tipo 2. A tirzepatida, seu princípio ativo, melhora o controle glicêmico e também promove a perda de peso
No entanto, esses remédios podem trazer efeitos colaterais e riscos à saúde, principalmente se usados indevidamente, ou seja, sem prescrição e acompanhamento médico. A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e a SBEM desencorajam o uso de semaglutida, como a Ozempic, para fins estéticos.
O comunicado elaborado por essas associações diz que o uso indiscriminado aumenta o estigma do tratamento entre quem tem indicação médica ao remédio, além de “expor pessoas sem necessidade de uso aos riscos”.
Bons hábitos podem ajudar
A Associação Americana de Aposentados (AARP) compartilhou conselhos, sugeridos por médicos especialistas, para perder peso após a meia-idade, como ter um bom padrão de sono, estabelecer metas realistas e que possam ser alcançadas dentro de um período de tempo, ficar hidratado e realizar exercícios cardiovasculares.
Em relação à alimentação, é recomendado moderar o consumo de doces e alimentos ricos em açúcar, evitar alimentos ultraprocessados, comer proteína suficiente, evitar lanches durante a noite e se certificar de que o jantar seja nutritivo e farto. Segundo a associação, o corpo queima aproximadamente 200 calorias a menos após os 50 anos e, por isso, é necessário controlar o consumo diário.
Evitar ficar sentado ou deitado por longos períodos, manter-se ativo e incorporar treinamento de força na rotina também estão entre as recomendações, assim como consultar um profissional de saúde para obter aconselhamento personalizado conforme as suas necessidades.
Um estudo do Departamento de Cinesiologia da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, revelou que o declínio no metabolismo basal ao longo dos anos não é observado em pessoas que se exercitam regularmente.
A pesquisa avaliou 65 mulheres, divididas em quatro grupos: pré-menopausa e pós-menopausa, além de sedentárias e ativas. Os resultados mostraram que, entre as mulheres ativas, o metabolismo se manteve estável antes e depois da menopausa.
De acordo com Sylka, o exercício virou um elixir, sendo a intervenção com a maior e melhor comprovação de eficácia. Ela ressalta a importância de manter uma rotina que inclua tanto atividades aeróbicas quanto exercícios de resistência.
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